Todo mundo já ouviu falar sobre Pokémon Go e sua rápida e espetacular ascensão ao topo do mundo dos apps. Para um game baseado em um antigo jogo de Gameboy da década de 90 e um seriado de TV, ele teve um apelo universal surpreendente – crianças e avós, hipsters e executivos, todos abraçaram a ideia. No seu auge, o aplicativo tinha 25 milhões de usuários ativos.
Além do objetivo final de introduzir a realidade aumentada para o público geral, esse aplicativo é um ponto de mudança significativo para aqueles que trabalham com o design de experiência do usuário. Pouco a pouco, o mundo tornou-se mais consciente do impacto do design de UX no dia a dia e nos produtos. Os nossos esforços para proporcionar melhores experiências de usuário têm sido reconhecidos, e os designers de UX são agora considerados uma parte integrante na maioria das empresas. O design de experiência do usuário também mudou de um ambiente predominante de desktop para dispositivos móveis, assim como a demanda dos usuários por uma maior mobilidade nos seus produtos. Os clientes também têm notado essa mudança, e isso elevou suas expectativas de quais produtos e serviços estão em oferta.
O Pokémon Go elevou essa concepção ainda mais.
Designers de UX estão acostumados a ajustar novas informações, mas um grande fenômeno como esse não surge todos os dias, especialmente um que nos impacta diretamente. Esta é uma grande oportunidade para fazermos mudanças novas e inovadoras em nossos locais de trabalho, mas também existem armadilhas para as quais devemos ficar atentos sobre a maneira como nós nos movemos para uma nova era de desenvolvimento de aplicativos. Aqui estão algumas das mudanças que estão no horizonte.
User Experience no mundo, mas filtrada através de uma tela
A tela principal do Pokémon Go é vista através do seu celular. Seu avatar se move em torno de um mapa virtual do mundo real, com PokéStops, iscas e ginásios espalhados por ele. Esse mapa reflete seu ambiente do mundo real, mas não exige que você se envolva ativamente, a menos que queira. No entanto, quando você encontra um Pokémon no aplicativo e clica sobre ele, você muda para outra tela na qual um Pokémon está de pé em uma versão melhorada da sua câmera do celular, pronto para ser apanhado. Essa é a realidade aumentada, que permite que as pessoas interajam com o jogo e o mundo real ao mesmo tempo.
Fonte: stux
As implicações de realidade aumentada são enormes. Pokémon Go é um jogo, ainda que muito viciante, mas ele levanta a questão do que vai acontecer quando a tecnologia empregada espalhar para outras aplicações. E o que dizer sobre a sobreposição das direções do Google Maps com a estrada real? Imagine passar por uma loja e ver as vendas online exibidas em sua janela física? Abrir a geladeira e ver a nossa lista de compras, dizendo-nos o que está faltando?
Integrar dados virtuais ao mundo real, em tempo real, foi considerado algo de um futuro distante, mas estamos vivenciando isso atualmente. Já existem alguns aplicativos que fazem isso, mas o Pokémon Go vai ajudar a chamar a atenção do público para esses desenvolvimentos. Nós provavelmente veremos um influxo de aplicativos de realidade aumentada – mas tome cuidado para não saltar no movimento muito rapidamente. Nem todos os aplicativos se beneficiariam com o tratamento da realidade aumentada e, como estamos vendo com o Pokémon Go, a implantação de um aplicativo não refinado e que tem vários erros acaba por afastar os usuários.
O conselho de ouro aqui é: não use uma tecnologia apenas por usá-la. Portanto, nesse caso, não utilize realidade aumentada apenas para usar a realidade aumentada – utilize-a quando ela realmente for útil para o público do seu app.
Tolerância dos usuários para bugs vs Empolgação com a nova experiência
Pokémon Go é emocionante e divertido e é a maior novidade, mas você encontrará pessoas que o descreverão como lento, frustrante e bugado frequentemente. Ele foi lançado rapidamente, hackeado ainda mais rapidamente para permitir que os usuários de fora dos EUA pudessem jogar antes do tempo e, por isso, o servidor teve problemas desde então. Enquanto o uso caiu, o número de usuários continua a crescer. Isso parece ir contra as regras habituais do design de UX – trabalhar bem os bugs antes do lançamento, verificar se os servidores podem lidar com um afluxo de usuários e manter os erros ao mínimo. O que torna o Pokémon Go diferente?
A resposta é simples e complicada. A resposta simples é que esse é um novo e inovador jogo com um grande fator de nostalgia que introduziu as pessoas à realidade aumentada dentro de jogos sociais mobile. Como todos os jogos populares, o Pokémon Go faz uso de algunsganchos comuns de jogos, tais como o objetivo de encontrar um Pokémon particularmente raro, o que leva as pessoas a jogá-lo com frequência.
Isso tudo foi feito ao mesmo tempo. Quando as pessoas estão experimentando um novo produto que está fora do seu domínio de experiências, a emoção tende a esconder as falhas do produto novo. Sua suposição seria a de que parte dos erros acontecem devido à sua própria inexperiência, o que leva aos problemas. Os seres humanos têm uma alta tolerância a falhas e defeitos, mas apenas quando se trata de outros seres humanos (veja a maioria dos novos relacionamentos). Esperamos muito mais precisão de computadores e da tecnologia, e ficamos irritados quando eles falham. O Pokémon Go atravessa a linha entre a tecnologia e o mundo real, o que aumenta os níveis de tolerância, mas não indefinidamente.
A resposta complicada é que uma convergência de todos esses aspectos – nova tecnologia, nova experiência, o envolvimento humano e ganchos – são difíceis de conseguir de uma vez. Há definitivamente um elemento de sorte envolvido e ainda estamos tentando descobrir a mecânica de como fazer produtos se tornarem virais. No entanto, isso não significa que não podemos nos esforçar para fazermos produtos que sejam inovadores, sociáveis e que contenham bons ganchos.
Uma coisa que nós não devemos fazer é criar um app pensando nos usuários tolerantes a bugs. Esse é o caminho errado a se tomar, não importa o quão tentador possa parecer.
Encorajamento social: o pêndulo que vai e volta
Uma das tendências mais preocupantes nos últimos tempos tem sido o isolamento das pessoas como resultado do desenvolvimento da tecnologia. Menos pessoas têm interagido com outras pessoas, preferindo, por exemplo, mensagens de texto ao invés de uma reunião física. A tecnologia afeta até mesmo as interações interpessoais: você vê frequentemente em restaurantes ou salas de aula, onde as pessoas estão imersas em seus telefones ou tablets.
Entre no Pokémon Go. A paisagem virtual mudou, ela inclui mais pessoas e interações do mundo real. Sim, as pessoas ainda estão interagindo com seus telefones e outros dispositivos móveis, mas agora elas estão olhando para cima de seus dispositivos, falando e conversando com outros jogadores, mostrando suas coleções, ensinando aos outros como deixar iscas ou jogar Pokébolas, e se comunicando com estranhos. Isso teve um impacto tão grande que estamos vendo artigos médicos afirmando que o jogo tem ajudado pessoas que sofrem de saúde mental, humor, ansiedade social e depressão.
As pessoas estão começando a almejar contato com outras pessoas de novas formas interessantes, e as melhores novas aplicações serão aquelas que satisfizerem esse desejo. A “nova” UX de realidade aumentada irá inclusive abordar a interação de várias pessoas ao mesmo tempo, incentivando as interações em tempo real, melhorando a comunicação, e explorará maneiras de construir encontros sociais fora da tela.
Começando a pensar fora da tela agora
Pokémon Go é apenas um passo na direção do futuro que a tecnologia está tomando. É um ponto de mudança, não um objetivo final. Ele abriu os olhos do público para as vastas possibilidades de jogos e aplicativos fora da tela. Nós temos uma oportunidade como designers de UX para construir sobre esse legado. Realidade aumentada, realidade virtual, etecnologia wearable são as novas fronteiras, e há muito a explorar e melhorar em cada uma dessas áreas.
Com o que nós contribuiremos para o futuro? Que novas inovações nós forneceremos para o público? Será que o nosso projeto será o próximo Pokémon Go? O mundo está assistindo e esperando para descobrir. É hora de afiar suas habilidades de design de UX e construir o futuro.
***
UsabilityGeek é um blog de UX que faz a ponte entre pesquisa acadêmica e teórica e recomendações práticas e pessoais sobre como entregar uma ótima experiência de usuário. Eles convidam colaboradores e autores para oferecer um hub de dicas e insights de experts do setor. Esta tradução foi feita com autorização pela Redação iMasters. Você pode checar o original em: http://usabilitygeek.com/pokemon-go-user-experience/
post original em: http://imasters.com.br/design-ux/pokemon-go-e-o-impacto-na-experiencia-do-usuario/?utm_source=iMasters&utm_campaign=f9408c24e1-ds_2015_08_18&utm_medium=email&utm_term=0_c1528e6ab3-f9408c24e1-360248133